O SR. CHICO ALENCAR (Bloco/PSOL – RJ. Sem revisão do orador.) – Presidente Gilberto Nascimento, colegas de representação, servidores que viabilizam esta sessão e todos os que a acompanham, Mãe Bernadete Pacífico tinha uma história de vida de 72 anos dedicada à sua raiz africana, à cultura brasileira e aos direitos dos povos quilombolas. A Ialorixá Bernadete Pacífico, que se dedicou o tempo todo à paz, à justiça e ao bem, foi retirada do nosso convívio, na última quinta-feira, da forma mais hedionda, abominável e repugnante possível: foi assassinada quando estava com os seus três netos. E olha que ela estava sob a guarda de um sistema de proteção de pessoa ameaçada. Isso de nada adiantou. Mãe Bernadete gastava muito de sua vida na agonia que só as mães podem ter quando perdem um filho, que parte fora do combinado, numa situação antinatural de deixar a vida antes de suas genitoras e de seus genitores. Mãe Bernadete, há 6 anos, lutava por justiça para seu filho Flávio Gabriel, o Binho, assassinado, da mesma forma que ela o foi, numa execução com mandante, numa execução que tem como cenário a disputa pelo território, a exploração ilegal de madeira, o avanço mercantil sobre terras preservadas e protegidas. Mãe Bernadete expressa a luta de tantas Marias, Mahins, Marielles, Margaridas e Malês deste País. Nós vamos propor já, já na Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais desta Casa uma moção de solidariedade à família, ao Quilombo Pitanga dos Palmares, a Mãe Bernadete e a todos aqueles que estão neste momento em alto luto pelo seu passamento. E também vamos continuar a batalha na quinta-feira que vem, dia nacional de luta contra o genocídio continuado de povos negros, pobres e quilombolas. Essa violência não pode ter a conivência da polícia, qualquer que seja o Governo. E a Câmara dos Deputados tem que se manifestar em relação a essas atrocidades, para que elas não continuem, não se rotinizem, não sejam normalizadas neste País, já de tanta dor e tanta tristeza. A ressurreição é possível quando a cidadania indignada se ergue contra esse tipo de violência inominável que não soma nada para a construção da democracia e da justiça social deste País. Portanto, deixo aqui registrada a solidariedade do PSOL e das pessoas de bem às famílias enlutadas neste País, inclusive pela morte de crianças menores de idade, assassinadas no meu Rio de Janeiro por balas perdidas que, via de regra, são encontradas em corpos mais frágeis, em gente que está indo para a escola, em gente que está dentro de casa. Isso é a barbárie em curso. Não há como aceitar ou como desconsiderar essa situação. É preciso cobrar ação contra isso de todas as autoridades federais, estaduais e municipais. Muito obrigado, Sr. Presidente.