Nós, fluminenses, temos o privilégio de viver na região mais icônica do Brasil, marcada por uma rica história e conhecida por suas inúmeras belezas naturais e manifestações culturais.
No entanto, também são conhecidos os muitos problemas que o Rio de Janeiro enfrenta, que se agravaram nas últimas décadas e levaram à sua decadência. Hoje, estamos vivendo uma grande degradação política, econômica e social no nosso estado.
O estado vem sendo maltratado, assim como o seu povo, servido por uma rede de saúde, educação e transportes de qualidade abaixo da crítica. Sofre, também, a natureza. Nossos rios, lagoas e mares poluídos não são somente um atentado ao meio ambiente, mas uma sentença de morte para o turismo, uma das indústrias mais poderosas do mundo e um dos nossos maiores ativos.
Não há dúvidas de que o processo de decadência e empobrecimento do estado do Rio de Janeiro é um fenômeno complexo e multifacetado, mas existe um consenso que o populismo é um dos principais fatores que contribui para chegarmos ao ponto em que hoje estamos.
O populismo foi a mola propulsora das favelas fluminenses, sendo o governador Leonel Brizola, na década de 80, o seu principal representante. Desde lá, no Rio de Janeiro, a remoção de favelas passou a ser um tabu, sustentado por um assistencialismo barato segundo o qual o estado deve prover tudo aos moradores das encostas e comunidades, mesmo que sua permanência ali possa pôr a própria vida em risco e acarretar prejuízos à toda a cidade. É triste, mas, por aqui, remover favelas é visto como uma afronta aos direitos dos mais necessitados.
Lembro-me bem de uma entrevista do poeta Ferreira Gullar, um dos maiores nomes da literatura brasileira, que contou o episódio de um político que foi visitar o então governador Leonel Brizola em seu apartamento na avenida Atlântica. No percurso, observou que a rua em Copacabana estava repleta de mendigos. Ele disse isso a Brizola e, para sua surpresa, o governador respondeu simplesmente: “Deixo-os aí de propósito para mostrar o que os ricos fazem com os pobres neste país”. É uma visão torta do problema!
É dito que no governo Brizola se chegou ao auge de proibir a entrada de policiais nas favelas. O resultado foi um surto de ocupações irregulares e um sinal verde para o banditismo se instalar. Graças a isso, os traficantes puderam transformá-las em “santuários” fortemente armados. Foram concedidos aos moradores das favelas direitos inacessíveis aos demais brasileiros, enquanto os populistas iam formando nos morros e comunidades seus currais eleitorais, ganhando votos em troca das “picanhas” da época, como sacos de cimento, telhas, dentaduras e bicas de água.
Esse modo de agir explica até os dias de hoje a perpetuação dessa classe de políticos em nossa sociedade. Eles e as favelas existem como símbolos do atraso. Quando alguém fala em remoção de barracos, são justamente eles os primeiros a levantar a voz contra. Óbvio, não querem nunca mais perder seus currais eleitorais.
Com isso, nossos governadores e prefeitos vão deixando as favelas crescerem e se alastrarem pelas encostas dos morros e por áreas desabitadas do estado. Quando a imprensa ou moradores mostram novas invasões avançando sobre a mata, as autoridades fingem tomar providências, mas de modo a não entrar em conflito com os líderes da comunidade, seus cabos eleitorais. E assim as favelas continuam crescendo, como uma ameaça à segurança dos seus moradores e daqueles que moram nos bairros próximos.
Esses fatos são a expressão da política que se faz não só no Rio de Janeiro ou na Baixada Fluminense, mas também no estado inteiro, e em todos os níveis: municipal, estadual e federal. É a política populista, que consiste em se fazer passar por protetor dos pobres para, de fato, enganá-los.
Ao adotarem políticas que visam agradar a opinião pública local e ganhar popularidade, em vez de implementar políticas realmente benéficas para a sociedade, como um todo, de longo prazo, nossos líderes nos conduziram para a atual situação enfrentada pelo Rio de Janeiro.
Outro fator que contribuiu significativamente para a decadência do estado do Rio de Janeiro foi a corrupção. A indiscutível medida do declínio político e moral do estado é a “pequena” lista de governadores que acabaram atrás das grades ou investigados, em uma ou outra ocasião, por corrupção: Moreira Franco, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral, Pezão e Witzel.
A corrupção desvia recursos públicos que poderiam ser investidos em serviços essenciais para a população, como saúde, educação, transporte e segurança. Quando os recursos são desviados para interesses privados, o estado não tem os recursos necessários para prestar serviços de qualidade à população, o que gera um ciclo de pobreza e exclusão social.
Além disso, a corrupção enfraquece as instituições públicas e mina a confiança da população nas autoridades. Quando as pessoas perdem a confiança nas instituições públicas, elas são menos propensas a colaborar com as autoridades, o que dificulta o trabalho de combate à criminalidade e à violência.
A corrupção também afasta investimentos e empresas do estado. Empresas sérias e responsáveis não querem operar em um ambiente onde a corrupção é generalizada, pois isso aumenta os riscos e dificulta a competição. Isso prejudica a economia do estado e afeta o emprego e a renda da população.
Os políticos, em sua maioria, têm demonstrado sua incapacidade de reverter a situação, mais focados na defesa de seus próprios interesses, quando não são representantes diretos de grupos criminosos. É fundamental, assim, que a população exerça o seu papel na fiscalização e na cobrança de políticas públicas efetivas e que lute por um estado mais justo, transparente, eficiente e democrático.
A solução para o nosso difícil problema tem que partir de um aumento da participação popular na construção de um movimento ético, onde a sociedade civil possa se engajar e pressionar os poderes constituídos a cumprirem suas funções e, ao mesmo tempo, possa varrer para sempre da política os atuais atores, cuja incompetência e desonestidade provocaram uma enorme destruição de capital em infraestrutura no estado, e também, principalmente, feriu a autoestima e a capacidade de sonhar por dias melhores da população do Rio de Janeiro.
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