Controladoria-Geral da União identifica mais de 200 mil tentativas de incluir falecidos em listas de associações ligadas a aposentados e pensionistas.
A Controladoria-Geral da União (CGU) revelou um novo capítulo da chamada “farra dos descontos” no INSS: pelo menos 38 entidades tentaram incluir pessoas já falecidas como associadas, a fim de manter cobranças indevidas em benefícios previdenciários.
Segundo o relatório, foram mais de 204 mil tentativas de cadastrar mortos, com o objetivo de inflar o número de filiados e aumentar as receitas das associações.
31 entidades sob suspeita
Das 38 instituições autorizadas a operar descontos em folha, 31 aparecem no relatório da CGU com tentativas de usar nomes de pessoas falecidas.
Entre elas estão a Associação dos Aposentados do Brasil (AAB) e a Conafer, ambas com atuação nacional.
O esquema consistia em gerar pedidos de autorização de descontos “em nome” de beneficiários que já haviam morrido — uma manobra que, segundo a CGU, só seria possível mediante falsificação de documentos.
Um caso emblemático mostra o absurdo: o nome de Jaime dos Santos, falecido em 2002, foi incluído em um pedido feito em março de 2024.
A AAB aparece como uma das entidades com maior número de tentativas, superando 27 mil registros de mortos entre seus “associados”.
Como o golpe funcionava
Os descontos de associações no INSS só podem ser autorizados com assinatura do beneficiário.
Ao usar nomes de pessoas já falecidas, os responsáveis criavam assinaturas falsas, e-mails genéricos e documentos adulterados, simulando novas filiações.
Apesar da fraude, os descontos não chegaram a ser efetivados porque os benefícios já estavam bloqueados em razão do óbito — o que impediu a transferência dos valores.
Mesmo assim, a CGU considera que houve tentativa de fraude e uso indevido de dados pessoais.
A Conafer no centro das denúncias
De acordo com o Metrópoles, a Conafer foi responsável por mais de 3,3 mil tentativas de aplicar descontos em benefícios de pessoas mortas.
Em alguns casos, a diferença entre a data do falecimento e o pedido de desconto superava oito anos.
O relatório cita ainda cadastros de crianças e formulários assinados por pessoas que morreram antes mesmo da criação da entidade.
Durante depoimento à CPMI do INSS, o presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes, negou irregularidades e chegou a ironizar as acusações ao ser questionado sobre os mortos:
“Se o morto estiver recebendo benefício, sim”, respondeu.
A CGU também destacou que a entidade dificultou a fiscalização, omitindo documentos e não respondendo integralmente às solicitações oficiais.
O que diz o INSS
O caso se soma a um panorama mais amplo de fraudes envolvendo associações e sindicatos de aposentados.
Segundo dados oficiais, mais de 5,1 milhões de contestações foram registradas por beneficiários que afirmam ter sofrido descontos não autorizados.
Desses, cerca de 1,6 milhão de pessoas já tiveram o ressarcimento reconhecido pelo INSS.
O órgão reforçou que as vítimas podem contestar valores pelo aplicativo Meu INSS, pelo telefone 135 ou nas agências dos Correios.
O que está em jogo
O escândalo expõe uma prática sistemática de uso indevido dos dados de beneficiários, muitos deles idosos e em situação de vulnerabilidade.
Mesmo sem prejuízo financeiro direto, a CGU afirma que a tentativa de incluir mortos em sistemas oficiais já constitui crime de falsidade ideológica.
O caso deve resultar em processos administrativos e criminais, além da suspensão de repasses a entidades envolvidas.
Em resumo
- 204 mil tentativas de cadastrar pessoas mortas.
- 31 entidades sob investigação.
- Conafer e AAB entre as principais citadas.
- 1,6 milhão de ressarcimentos já reconhecidos pelo INSS.
- Fraude envolvia falsificação de documentos e e-mails fictícios.
Fontes consultadas: Revista Oeste, Metrópoles, Agência Câmara, Portal do INSS, Controladoria-Geral da União.














































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