Petista contraria promessa de realizar governo ‘paz e amor’ e ofusca interlocução de feitos do governo federal durante os primeiros 100 dias à frente do Planalto
Em meio à campanha eleitoral para disputa das eleições à presidência da República em 2022, o então candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – que viria a sagrar-se vitorioso – passou a ser questionado durante suas entrevistas e debates eleitorais sobre uma possível postura radicalizada. As dúvidas pairavam sob o argumento de um possível revanchismo de Lula após a derrocada de seu partido – devido ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), às derrotas acachapantes nas eleições municipais de 2015 e ao insucesso ao tentar retornar ao poder em 2018, após Fernando Haddad (PT) perder o segundo turno das eleições presidenciais para Jair Bolsonaro (PL) – e de sua trajetória política – com as condenações sofridas pela Lava Jato e os mais de 500 dias detidos na sede da Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba. Em uma da aparições públicas, durante entrevista ao Programa do Ratinho, do SBT, em 22 de setembro e às vésperas do primeiro turno das eleições de 2022, o petista declarou que o “Lulinha paz e amor voltou com tudo” – em alusão ao slogan de campanha utilizado pelo Partido dos Trabalhadores em 2002 que levou o então sindicalista à sua primeira vitória nas eleições para o cargo de chefe do Executivo federal. No entanto, passado o pleito e após a posse como mandatário, a imagem que o petista transparece não condiz com a promessa de que seu terceiro governo à frente do Planalto seria de “paz e amor”. Nos últimos 100 dias, Lula passou a atacar publicamente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a criticar declarações e promessas de seus ministros e voltou a afrontar o senador e ex-juiz Sergio Moro (União Brasil-PR).
A mais recente crise causada pelo mandatário trata-se de uma rusga antiga com a Operação Lava Jato. No fim do último mês e durante entrevista ao canal TV 247, o presidente Lula foi questionado sobre o período em que esteve preso em Curitiba, o qual revelou ter “muita mágoa”, e revelou um desejo antigo de querer vingar o ex-juiz Sérgio Moro. “De vez em quando um procurador entrava lá de sábado, ou de semana, para visitar, ver se estava tudo bem. Entrava 3 ou 4 procuradores e perguntava ‘tá tudo bem?’. Eu falava ‘não está tudo bem. Só vai estar bem quando eu fodr esse Moro. Vocês cortam a palavra ‘fodr’”, declarou o petista antes de começar a chorar ao relembrar o período em que esteve preso. Mesmo com o pedido para que o trecho final fosse editado, a entrevista foi transmitida ao vivo. No dia seguinte à fala do petista, a Polícia Federal deflagrou uma operação em que revelou um esquema do PCC que planejava atacar autoridades políticas, entre elas, o ex-juiz da Lava Jato e hoje senador da oposição. Na ocasião, Lula, que encontrava-se no Rio de Janeiro em visita ao Complexo Naval de Itaguaí, foi questionado sobre a ação dos agentes federais de segurança e o chefe do Executivo classificou o episódio como “mais uma armação de Moro”. “Eu não vou falar porque acho que é mais uma armação do Moro. Quero ser cauteloso, vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro”, declarou. Na ocasião, o presidente poderia ter fortalecido sua agenda durante celebração ao programa de desenvolvimento do submarino nuclear da Marinha, porém, a reação de Lula gerou uma repercussão negativa. Moro reagiu e questionou onde estava a “decência” do presidente.
Após retornar ao poder, o governo do Partido dos Trabalhadores criou um órgão chamado Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia (PNDD), através da Advocacia-Geral da União (AGU), com o objetivo de atuar “para resposta e enfrentamento à desinformação sobre políticas públicas”. A oposição passou a chamar a ação de “Ministério da Verdade”, em alusão ao livro distópico ‘1984’, de George Orwell, pelo temor da prática de censura a quem se opõe ao governo federal, como ocorre na obra literária. Formado por integrantes da sociedade civil e que integram o poder público, a equipe constitui-se de 11 membros acadêmicos, de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e de integrantes dos meios de comunicação. A deputada federal Adriana Ventura (Novo-SP), utilizou as suas redes sociais para traçar um comparativo da Procuradoria criada pela gestão petista com a obra ‘1984’ . No livro, há um órgão responsável por reescrever obras literárias e documentos de modo a reeditar fatos históricos – de forma inverídica – para benefício do governo. “Nada abala mais a Democracia do que decretos ‘em nome’ da Democracia. Para defender a República e a Democracia existe a Constituição! Basta cumpri-la sem canetadas”, avaliou a parlamentar.
Além das rusgas antigas com o ex-juiz, Lula também cometeu deslizes em falas enquanto participava da 52ª Assembleia Geral dos Povos Indígenas, em Roraima, no início de março, ao afirmar que houve um ponto positivo na escravidão da população negra: a miscigenação do povo brasileiro. “Resolveram vender a ideia de que era preciso fazer a escravidão vir para o Brasil porque os indígenas eram preguiçosos, não gostavam de trabalhar. Toda a desgraça que isso causou ao país causou uma coisa boa, que foi a mistura, a miscigenação, a mistura entre indígenas, negros e europeus, que permitiu que nascesse essa gente bonita aqui”, declarou o mandatário durante visita à terra Raposa Serra do Sol. Nas redes sociais, alguns ativistas publicaram críticas à manifestação, disseram não haver “saldo positivo” da escravidão e consideraram que a fala foi um “tiro no pé” do petista. Em resposta à fala de Lula, o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) foi às redes e questionou o suposto silêncio dos movimentos negros após o discurso: “O presidente da República, que subiu a rampa com o discurso ‘dourado’ de minoria, declara que a escravidão ‘causou uma coisa boa, que foi a mistura, a miscigenação’. Cadê os movimentos negros para explicar o tamanho do racismo praticado por Lula? Silêncio absoluto”.
Na cerimônia de lançamento do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), Lula voltou a ser alvo de críticas após se manifestar contrário à obesidade. Isso porque, num determinado momento de seu discurso, o petista classificou a obesidade como uma doença que prejudica tanto quanto a fome, sendo necessário o auxílio do Estado àqueles que estão acima do peso. Neste momento, Lula fez um paralelo com o ex-governador do Maranhão e ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), ao afirmar que o chefe da pasta deveria se exercitar por estar acima do peso. “Aqui ninguém está com excesso de magreza. O restante está tudo com um pouco de obesidade, que também é uma doença que nós precisamos cuidar. A nossa médica, que é ministra da Saúde, sabe perfeitamente bem que a obesidade causa tanto mal quanto a fome. E por isso que o Flávio Dino está andando de bicicleta, porque ele sabe que isso vai precisar que o Estado cuide com muito carinho desse mal”, afirmou. Em seguida, o deputado federal mais votado do Brasil nas eleições legislativas de 2022, Nikolas Ferreira (PL-MG), foi às redes e publicou uma mensagem em que acusa os apoiadores petistas de usarem dois pesos e duas medidas nas falas do presidente Lula. “Lula diz que banheiro trans é invenção do satanás, que obesidade é doença e faz piada sobre. Não importa o que diz, mas quem diz”, criticou o parlamentar.
Fonte: Jovem Pan