‘Vamos ter problemas’, respondeu o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República
Às 8h53 da manhã de 8 de janeiro deste ano, o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Gonçalves Dias (também conhecido como G. Dias), recebeu uma mensagem avisando que quase cem ônibus chegaram a Brasília. Esse era o prenúncio do que estava por vir com as invasões aos prédios públicos na Praça dos Três Poderes.
A mensagem, que foi enviada ao celular pessoal de G. Dias pelo então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, continha a placa de cada veículo. A conversa foi obtida com exclusividade por Oeste. “Quase cem ônibus já. Bom dia“, escreveu Cunha. Ao tomar ciência da gravidade da informação, o então chefe do GSI respondeu: “Vamos ter problemas”.
Em seguida, Cunha explica a G. Dias que a Esplanada dos Ministérios estava fechada pelo governo do Distrito Federal. “O negócio é o entorno. Daqui a pouco mando a situação do QG [quartel-general]“, continua Cunha. Por fim, o general responde com um sinal de confirmação.
Ex-Abin já admitiu conversa com Gonçalves Dias
Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, o ex-diretor da Abin relatou que teve uma conversa com G. Dias na manhã do 8 de janeiro. Cunha, contudo, disse que havia enviado 33 avisos ao então ministro-chefe do GSI. No conteúdo acessado por Oeste, não aparecem os 33 avisos, mas o informe relacionado aos ônibus.
“Comecei a passar informações para o G. Dias às 8 horas do 8 de janeiro”, disse Cunha na ocasião. “Repassei para ele todos os alertas da Abin e algumas informações do grupo da célula integrada de segurança pública, inclusive de manifestantes que cobriram os rosto com uma máscara. Ele me respondeu dizendo: ‘Acho que vamos ter problemas’.”
Ao colegiado, Cunha ainda disse que, às 13h30, ligou para G. Dias, pois recebeu informações de que havia um chamamento para a invasão dos prédios públicos.
“Quando a marcha começou, um colega, responsável pela segurança de um dos Poderes, conversou comigo e pediu o contato do G. Dias”, explicou Cunha. “Passei o contato e liguei para o G. Dias, às 13h30. Eu disse ao ministro que tínhamos a convicção de que as sedes dos Poderes seriam invadidas. Nesse momento, a marcha ainda não havia rompido nenhuma barreira, mas tínhamos a certeza e comunicamos ao G. Dias.”
Às 15 horas, os manifestantes furaram o bloqueio da polícia e foram em direção ao Congresso Nacional, ou seja, daria tempo para, de alguma forma, tentar contê-los.
Em abril deste ano, o general Dias foi demitido depois da divulgação de imagens do circuito interno do Palácio do Planalto pela emissora CNN. Nas cenas, ele aparece à paisana interagindo com os manifestantes.
Fonte: Revista Oeste
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