Reunião acontece com representantes das cidades da Baixada Fluminense e do Sul Fluminense atingidas pelo temporal; ao todo, oito pessoas morreram
Rio – Autoridades de cidades afetadas pelo temporal que atingiu a Baixada Fluminense e o Sul Fluminense se reúnem na manhã desta sexta-feira (23) com representantes do Governo do Estado e do Governo Federal para definirem ações que diminuam os danos da população afetada. A reunião acontece na Câmara Municipal de Japeri, município que registrou duas mortes, sendo uma de um menino de 2 anos. Ao todo, oito pessoas morreram no Estado do Rio e uma criança segue desaparecida.
O encontro começou às 10h50 e é presidido por André Ceciliano, secretário especial de Assuntos Federativos. A reunião também conta com a presença do secretário nacional de Defesa Civil, Wolnei Wolff, do secretário de Estado de Governo, Bernardo Rossi, e do coronel Leandro Monteiro, secretário de Estado de Defesa Civil.
O prefeito de Queimados, Glauco Kaizer, defendeu a realização de uma obra de macrodrenagem na região da Baixada para mitigar o efeito das chuvas. Ele afirmou que a obra é cara e precisa de financiamento do Governo Federal ou do Estado.
“A gente fez a sugestão de um projeto de macrodrenagem para a região. Somos banhados por um mesmo rio. Precisamos fazer a manutenção dos rios e a drenagem para entender o desague da bacia hidrográfica e mitigar o efeito das chuvas”, defendeu.
O objetivo principal da reunião é traçar medidas de emergência para amparar a população que ficou desalojada e identificar situações de risco. Em Queimados, 50 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas da noite de quarta-feira (21). A cidade tem mil pessoas desalojadas. Um ponto de apoio foi montado na Escola Metodista, recebendo a população em área de risco com colchões e insumos.
“Estamos fazendo o socorro o mais rapidamente que conseguimos. Estamos com parceria com a Marinha para conseguirmos maquinário e fazer o socorro em cada bairro”, afirmou Kaizer.
O prefeito de Nova Iguaçu, Rogério Lisboa, afirmou que o momento é de cuidar da dor aguda que a população está sentindo. A cidade teve duas mortes registradas. Lisboa também pediu ao Governo Federal intervenções em obras.
“É hora de ajuda social, com equipamentos, Defesa Civil. Mas, tratar dessa dor é saber que vamos ter que tratar de novo se não atuarmos no cerne da questão. Existem algumas artérias, como os rios Iguaçu e Botas, que precisam ser cuidados para desaguar na Baía de Guanabara. Nova Iguaçu sofreu de novo”, destacou.
Paracambi, também na Baixada Fluminense, segue com bairros isolados. O representante do município afirmou que o Estado está ajudando, mas precisa de mais. O município tem posto de saúde alagado e precisa de alimentação e medicamentos. Os desalojados estão entre 200 e 300. Já o secretário de Casa Civil de Belford Roxo, Renatinho Ceciliano, afirmou que a cidade não teve mortes, mas registrou alagamentos.
O secretário de Defesa Civil de Mesquita, Alex Cruz, reforçou a necessidade de que haja uma política pública preventiva. “Não teve alagamentos graves, mas entrou água na prefeitura, em bancos e algumas ruas”, contou.
Fernanda Ontiveros, prefeita de Japeri, afirmou que a cidade enfrenta fortes chuvas desde 13 de janeiro e avaliou que a situação piorou muito com uma chuva de 164 mm em 4h, afetando 40 mil pessoas. Após a morte de duas pessoas, incluindo a de um menino de 2 anos, Japeri decretou estado de calamidade e luto por dois dias. “Precisamos de socorro e plano de trabalho de médio e longo prazo”, pediu ao Governo Federal.
O prefeito Mario Esteves, de Barra do Piraí, no Sul Fluminense, ressaltou que a cidade está em estado de calamidade. O município teve quatro mortes confirmadas em decorrência das chuvas confirmadas. As vítimas são da mesma família, incluindo um bebê de um ano. São 125 desalojados na cidade. A prefeitura do município segue fazendo o monitoramento das ruas. Alguns trechos seguem interditados por desabamentos e alagamentos. Pelo menos treze bairros foram afetados no município.
“Eu até fiz o dever de casa de várias intervenções que o Ministério Público solicitou. Somos um vale”, afirmou o prefeito, que disse precisar de obras no valor de 1,6 milhão.
O prefeito de Mendes, também no Sul Fluminense, Jorge Henrique, afirmou que houve 168 mm de chuva em 24h horas na cidade. Foi o maior índice em 30 anos. Mendes foi o município que mais sofreu depois de Nova Iguaçu. Desde as chuvas, a cidade está sem água e está com risco de deslizamento sobre a estação de tratamento da cidade.
Engenheiro Paulo de Frontin, ainda no Sul Fluminense, está com estradas estaduais obstruídas, sendo uma delas a RJ-129. O município está isolado com pelo menos 70% da cidade sem energia e 60% sem água. São 80 famílias desalojadas no momento. Cinco delas foram resgatadas por helicópteros de áreas isoladas.
A Secretária de Assistência de Varre-Sai, no Norte Fluminense, afirmou que o município tem muita produção agrícola, e as estradas foram afetadas. “A gente ficou assustado porque não estamos acostumados a passar por essas tragédias com as chuvas”, disse.
Resposta do Governo Federal
O secretário especial de Assuntos Federativos, André Ceciliano, transmitiu aos prefeitos a mensagem do presidente Lula (PT) de que não vai faltar recursos para ajuda humanitária, restabelecimento de cenário e reconstrução dos municípios atingidos pelas chuvas.
“A gente espera ainda hoje entregar dois ou três planos de trabalho. Estamos homologando estado de emergência em horas”, explicou.
O secretário nacional de Defesa Civil, Wolnei Wolff, prestou solidariedade às famílias que perderam entes queridos e anunciou que três técnicos de sua pasta vão ficar no Rio para ajudar nas ações imediatas. Dois ficarão em Japeri e um ficará volante. Os técnicos ficarão disponíveis para orientar os colegas da Defesa Civil municipais e estadual para fazer as solicitações ao governo federal.
“Parece atípico, mas está virando uma realidade essas situações de emergência. Reconhecida a situação de calamidade, o município fica habilitado a receber o apoio federal com o devido plano de trabalho”, acrescentou.
Wolff reconheceu que a bacia hidrográfica da Baixada deve ser uma prioridade. “É um problema e toda hora acontece. As mudanças climáticas estão provocando chuvas com intensidade e frequência. O presidente Lula pediu aos governadores que indicassem três prioridades para o PAC, mas isso ainda pode ser solicitado”, lembrou.
O diretor do Departamento de Emergências em Saúde Pública, do Ministério da Saúde, Márcio Garcia, chamou a atenção dos prefeitos para possibilidade de aumento de casos de leishmaniose e hepatite por conta das chuvas. “Houve aumento de leishmaniose com as chuvas do Rio. São sintomas parecidos com a dengue, mas manejo clínico diferentes”, alertou.
Já a secretária Cintia Miranda, representante do Ministério de Desenvolvimento Social, apresentou as principais políticas emergenciais de assistência social. Entre elas estão a antecipação do Bolsa Família para famílias atingidas pelas chuvas. “As secretarias municipais também devem fazer a busca ativa de famílias que perderam suas fontes de renda e precisam ser cadastradas no CadÚnico e passar a receber o benefício”, acrescentou.
Miranda também lembrou que o governo federal disponibiliza um auxílio para desabrigados de em média R$ 400 por pessoa. Pessoas desalojadas, que estão em casas de parentes ou amigos em situação de insalubridade, também podem receber a ajuda. As políticas federais devem ser solicitadas pelos municípios.
Mortes no estado
Oito pessoas morreram devido ao temporal que atingiu cidades da Baixada Fluminense e do Sul Fluminense na noite de quarta-feira (21). Entre elas estão um menino de 2 anos, em Japeri, e quatro da mesma família em Barra do Piraí, sendo um deles um bebê.
A morte da criança de 2 anos na cidade de Baixada aconteceu na Rua do Mocambo, no bairro Engenheiro Pedreira, após a casa onde ele estava ser atingida por um deslizamento de terra. Imagens que circulam nas redes sociais registraram o desespero de vizinhos tentando socorrer a vítima, que ficou soterrada.
José Carlos Amorim de Oliveira, avô do menino, contou, muito abalado, que a irmã gêmea da vítima, que também estava na residência, conseguiu ser socorrida, mas o neto não. De acordo com ele, o menino inalou muito gás sob os escombros, pois a queda da estrutura da casa gerou um vazamento no encanamento.
Também em Japeri, Ana Carolina Sodré, de 24 anos, morreu soterrada no bairro da Chacrinha após um barranco deslizar e invadir o primeiro andar de sua residência. No momento da tragédia, a vítima estava ao lado do marido, que sofreu ferimentos, mas passa bem. Além do casal, três filhos da dona de casa estavam fora da residência brincando e não se feriram. A vítima deixou cinco filhos, sendo dois bebês e três crianças entre 2 e 7 anos. Ela foi enterrada nesta quinta-feira (22) no Cemitério de Japeri.
Ainda na Baixada, Roberto Mesquita, de 59 anos, e Felipe Machado, de 37, foram encontrados mortos em Nova Iguaçu. Os corpos foram arrastados por uma enxurrada.
Em Barra do Piraí, no Sul Fluminense, quatro pessoas da mesma família foram soterradas após o prédio de três andares onde eles moravam desabar na Rua Paulo da Silveira, no Morro da Gama, no Centro da cidade. Um bebê de 1 ano foi encontrado sem vida juntamente com a mãe, Inara Oliveira, o pai, Bruno de Carvalho, e a avó, Ligia Maria de Carvalho.
Em Mendes, também no Sul Fluminense, uma criança, de 6 anos, segue desaparecida desde a noite de quarta-feira (21). Bombeiros buscam por uma vítima em escombros de um deslizamento na cidade. A mãe e o irmão dela foram socorridos com vida.
Fonte: O Dia
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