Trecho questionado liga a escravidão à falta de virtude
Nesta segunda-feira (3), a Bancada Negra da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul realizará, às 18h30, uma audiência pública para discutir sobre a mudança de um trecho do hino do estado considerado racista.
Os parlamentares Bruna Rodrigues (PCdoB), Matheus Gomes (PSOL) e Laura Sito (PT) afirmam que desde a década de 70 se discute sobre o preconceito embutido na frase que diz: “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.
Para eles, a estrofe compara que o povo negro gaúcho – majoritariamente escravizado à época – foi submetido: à escravidão – e que, por isso, não possuía virtude.
Os deputados solicitam a mudança diante da “necessidade de pensar os símbolos do estado (especialmente o Hino) sob um ponto de vista que não incentive nenhuma forma de preconceito”.
De acordo com o site da Assembleia Legislativa, o hino do Rio Grande do Sul foi escrito dentro do contexto da Guerra dos Farrapos (de 1835 a 1845), em um período em que os negros eram escravizados no Brasil.
– [A Guerra dos Farrapos] Era uma luta dos estancieiros escravagistas pela redução dos impostos da comercialização do charque. Por isso, o período de escravidão contextualiza os versos do hino dizendo: caso não fossem vitoriosos nesta luta, ou seja, não tendo virtude de vencer a guerra, acabariam sendo escravos, como os negros, mas da monarquia – explica o texto.
A história dos farroupilhos envolve a questão dos Lanceiros Negros que lutavam sob uma pretensa promessa de liberdade e ainda teve a questão da Traição de Porongos, ocorrida em 14 de novembro de 1844, onde mais de 100 soldados negros foram presos.
– Os guerreiros estancieiros não queriam acabar como negros, como escravos. Queriam a virtude de vencer a guerra. Pois quem era escravo não tinha virtude. E a luta deles, tão glorificada, coexistiu com a condição do negro na época. Eles tinham escravos, eles não podiam ser escravos. Afinal, tinham virtude – explica o texto da Assembleia.
Fonte: Pleno.news
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